Agatha [RELATOS SOBRENATURAIS]

 Agatha [RELATOS SOBRENATURAIS]


Mesmo hoje, ainda não consigo acreditar nas coisas que aconteceram naquela casa. As coisas que eu vi, as coisas com as quais tive que viver pelo resto da vida.

Em um dia de gravação normal para o seu canal no YouTube:

— Oi, pessoal, aqui é a Molly! Hoje nós não teremos tutorial de maquiagem porque muitas pessoas me pediram mais vídeos sobre namoro, vida de solteira e coisas assim.

O meu canal no YouTube era uma forma de sentir que eu era mais do que apenas uma garçonete. Era uma comunidade legal no meu canal. Por algum motivo, dezenas de milhares de pessoas queriam me ver me maquiando ou fazendo uma salada Cobb. Embora, na verdade eu não soubesse fazer nada dessas coisas.

O bar era uma espelunca. Ele era frequentado por trabalhadores e pessoas com mais de 60 anos, então era legal quando entrava uma pessoa da minha idade:

— E aí, como vai?

— Bem, e você?

— Bem.

— Gostei desse bar!

— É sério?!

— É, porque ele tem personalidade, não tem bares assim em Los Angeles.

— Os de Los Angeles não cheiram a fracasso e cebolas?

— Os nossos bares têm cheiro de desespero e rejeição – fala o homem bonitão – quer tomar um shot comigo?

— Não posso beber em serviço, mas eu bebo assim mesmo. O que que você quer?

— Hum, você pode escolher.

— Que tal uísque?

— Ótimo!

— Um brinde aos bares de personalidade!

— Saúde… Você sai que horas?

Eu tinha quase 30 anos e a minha vida não era o que eu tinha imaginado depois que eu peguei um empréstimo estudantil de U$ 10.000,00.

Logo pela manhã, recebi uma ligação do meu patrão, o dono do bar em que eu trabalhava:

— Oi, Dave.

— Oi Molly. Eu preciso que você venha aqui ao bar.

— Dave hoje eu estou de folga. Eu trabalhei ontem à noite!

— É, eu sei, mas você quase nos levou à falência ontem à noite, porque parece que você decidiu não cobrar mais ninguém depois das 23H.

— Pera aí…

— Escuta! Eu te amo como uma irmã, mas essa não foi a primeira vez. Desculpa, mas vem aqui.

— Se você quer me demitir, faz isso por telefone…

E ele desligou.

Naquele mesmo dia, no seu canal de YouTube, Molly fala às suas seguidoras:

— Bom, amigas. Um evento recente fez com que eu tivesse bem mais tempo para todas vocês e bem menos tempo para servir cerveja choca. Fui demitida! Mas a boa notícia é que eu conheci um rapaz bem legal e divertido, chamado Chris. A má notícia é que ele está num avião voltando para Los Angeles, onde ele mora. Então, tecnicamente, não tem boa notícia.

Eu estava falida, com uma dívida enorme. Então comecei a procurar pela internet algum emprego. Até para os quais eu não tinha qualificação, como cuidadora de idosos por exemplo.

E foi assim que eu fui parar naquela maldita casa.

Chegando no seu novo emprego como cuidadora de idosos, a dona da Mansão, uma senhora chamada Betty, começou a lhe mostrar o ambiente onde Molly iria trabalhar e viver também:

— Tem 7 quartos, a maioria cheia de entulhos, então você não precisa entrar neles. O seu quarto fica no andar de cima. A sala de jantar aqui, mas eu faço minhas refeições lá em cima no meu quarto, vendo TV. Vem comigo!

Ela parecia totalmente saudável, então eu não sabia por que ela precisava de uma cuidadora.

Mais tarde, Molly resolve mostrar seu quarto para a sua comunidade no seu canal:

— Bom, gente, esse aqui é o meu novo quarto na minha nova casa. É bem gótico, não é!?

Ela falava bem alegre quando de repente escuta um barulho vindo de fora.

— Esta casa tem uns 200 anos, então, é cheia de barulhos estranhos.

E mais barulhos acontecem assustando ainda mais a moça.

— Isso vai ser diferente, mas eu estou animada.

A nova patroa a chama e ela desliga sua câmera para que pudesse atendê-la.

Foi uma mudança total. Eu estava morando num bairro rico, numa mansão velha e não mais no centro, ou trabalhando num bar. Mas pareceu uma boa forma de sair da minha situação financeira terrível. Sem pagar aluguel e com um bom salário.

Na hora do jantar, Molly leva a comida da senhora para ela em sua cama enquanto assiste televisão:

— Obrigada! – diz a senhora deitada na cama e vendo tv.

— Bom, eu estarei no meu quarto se a Senhora precisar.

— Não vá! Sente aqui e veja um pouco de TV comigo.

Molly senta-se em uma poltrona grande de couro escuro ao lado da cama de Betty .

Eu lembro de pensar, “Que ótimo!”. Ficou claro que a Betty tinha me contratado porque precisava de companhia, mas eu entendi o motivo: a casa era enorme, escura e tinha um clima esquisito e solitário.

Enquanto Molly levava a bandeja do jantar para a cozinha, ela escutou uma risada de criança vindo de um dos quartos no fim do corredor e ela, contrariando o pedido da sua patroa, acaba por ir investigar.

Assim que chega na frente do quarto, a porta se abre lentamente revelando uma escuridão tenebrosa e com odor de coisa velha vinda do seu interior.

Por algum motivo, não tinha luz naquele quarto, mas eu lembrei que tinha visto uma lanterna na cozinha.

Ela desce, pega a lanterna e sobe para continuar investigando o interior do quarto misterioso.

Eu já tinha visto coleções de bonecas, mas nenhuma como aquela. Imaginei que a risadinha que eu tinha ouvido era de uma daquelas bonecas.

Molly pega duas das bonecas das muitas tantas que estavam no quarto (uma delas com a cara toda queimada) e as apresenta no seu canal do YouTube:

— Eu queria apresentar a vocês as minhas novas amigas. Esta aqui é a Betty. Ela é bem sexy, como vocês podem ver! Nós vamos passar muito tempo juntas, e eu estou achando tudo isso máximo. Fala sério, gente!? Não é a coisa mais assustadora que já viram? Tem um quarto cheio destas bonecas esquisitas e ele fica bem na frente do meu, então é bem legal, né? Bom, gente, esta é a minha primeira noite nesta casa. E eu…

Assim que diz essas palavras, ela vê através do seu monitor uma vela acendendo sozinha atrás dela.

Aquela vela não estava acesa antes então quem a acendeu?

Revendo o vídeo gravado em seu notebook, Molly vê o momento exato em que a vela é acesa e uma sombra passando por trás dela e saindo pelo quarto.

Era difícil dizer, mas eu me convenci de que a Betty tinha entrado no meu quarto, porque, quem mais teria entrado e acendido aquela vela?

Na outra manhã, enquanto Molly lavava a louça do café matinal, Betty, lendo seu jornal, diz:

— Bill Smith morreu.

— Era alguém que a Senhora conhecia ou conheceu.

— Ah! Eu era muito amiga da irmã dele. Ela também morreu há muitos anos?

— E eu sinto muito – se comoveu Molly.

— E como você dormiu? – perguntou Betty.

— É… eu dormi bem, dormi bem.

— Gostou do seu quarto?

— Gostei, é bem confortável.

— Ótimo, então não precisará mais bisbilhotar os outros quartos.

— Ah… não… é…  eu não vou não.

Eu ia falar da vela, mas depois de ser repreendida achei melhor não falar nada.

Mais tarde naquele dia, Molly estava terminando o seu banho e, quando foi pegar a toalha para se enxugar, ela caiu no chão, fazendo com que a moça desse de cara com a boneca toda queimada da noite anterior sentada encostada na porta do banheiro e olhando para ela.

A boneca com certeza não estava lá quando eu entrei no chuveiro. Achei que tinha sido um jeito estranho da Betty mostrar que ela sabia que eu tinha mexido nela, mas a forma com que a boneca estava apoiada na porta pelo lado de dentro, não tinha como a Betty ter deixado a boneca e fechado a porta depois. Mesmo assim, eu sabia que devia colocar a boneca de volta.

Depois de se vestir, Molly vai com muito cuidado deixar a boneca novamente no quarto misterioso da noite anterior. Coloca em um canto e sai.

Gravando mais um vídeo para o seu canal do YouTube:

— Então, para comemorar o fim de semana de festas que eu vou perder, eu vou fazer para vocês um look bem sexy e sensual com os olhos esfumados. Bom, agora vocês devem estar se perguntando, por que será que a Molly vai perder o melhor fim de semana de festas do ano?

Nesse momento, as luzes começam a piscar abruptamente e se apagam.

— Dona Betty, a Senhora está bem?! – Molly grita.

— Eu estava até você me acordar!

— Bons tempos – ela volta a gravar – Esse lugar é um tédio! O salário é bom, mas…

Mal terminou sua frase e a porta do seu quarto começa a sacudir sozinha. O barulho é ensurdecedor e Molly, muito assustada não sabe o que fazer. A porta batia, sacudia e sons altos de arranhões podiam ser ouvidos pela moça que estava acuada em sua cama.

Ela levanta, pega o seu notebook, vira a tela para a porta e a vê toda arranhada pelo lado de dentro. Mas como se ela estava sozinha no local?

Eu sabia que não tinha nada no meu quarto. Então, como explicar os arranhões novos no lado de dentro da porta? Eles surgiram do nada.

No outro dia, durante o café da manhã, Molly resolve puxar assunto com a sua patroa:

— A Senhora já viu animais ou morcegos entrando na casa à noite?

— Bom, acho que tivemos um ou outro morcego aqui dentro nos últimos 60 anos.

— Eu acho que deve ter entrado um no meu quarto ontem à noite.

Betty pede que Molly tire a camisa a fim de examiná-la para ver se não tinha sido mordida por algum morcego.

— Eu, eu juro, eu não fui mordida – diz Molly.

— Morcegos transmitem raiva e quando surge um sintoma já é tarde demais, 100% de mortalidade.

— Eu posso colocar minha blusa? – perguntou a moça.

— Uhum, deixe-me ver seus pés.

— Eu. Eu dormi de meia.

— Não adianta muito.

— Eu saberia se eu fosse mordida.

— É mesmo?! E se eu te dissesse que o meu primo, James, recebeu um órgão doado por um homem que morreu de overdose. Pelo menos foi o que pensaram. Até que o próprio James morreu de Raiva. Eles foram examinar um doador e encontraram uma pequena mordida em seu pé. Ele nem sabia que tinha morcegos no sótão e foi mordido enquanto dormia. As 5 pessoas que receberam os órgãos dele morreram. É uma morte terrível. Não tem nada de nobre. Eu vou chamar o dedetizador imediatamente…

— Na verdade, eu não vi um morcego.

— Você não disse que viu?!

— Não, é que alguma coisa arranhou a minha porta ontem à noite de dentro do meu quarto.

Sem falar nada, Betty se levanta e sai, Molly a chama, mas não adianta nada.

Eu não sei por que a Betty ficou chateada quando eu mencionei os arranhões. Eu só sabia que eu não podia mais continuar trabalhando ali.

Naquela noite, as luzes voltaram a oscilar e apagaram repentinamente enquanto Molly trabalhava em seu Notebook.

Eu preferia dormir no meu carro a passar mais uma noite naquela maldita casa.

Então ela pega seu notebook, o resto de suas coisas e desce correndo pelas escadas no meio da escuridão. Ao chegar à porta da frente da mansão, dá de cara com uma menina loira vestida com uma camisola branca antiga e segurando uma vela acesa. A menina lentamente vira para Molly rindo enquanto a moça encontrava-se paralisada de medo. De repente a menina apaga a vela e começa a ir de encontro à Molly, que se recupera da paralisia, deixa a chave cair, mas consegue correr para o lado contrário, fugindo da garota.

Você não entenderia, a menos que acontecesse com você, mas eu garanto que o que eu estava vendo, não estava exatamente vivo. Eu cheguei a correr até a porta para ir embora, mas eu acho que precisava de respostas. Talvez só para provar a mim mesma que eu não estava louca.

No outro dia, durante o café da manhã, do lado de fora da casa, Molly conversa com Betty e lhe diz tudo o que aconteceu. A senhora então começa a contar a história da casa para a empregada:

— A Agatha era mais velha do que eu, 2 anos para ser exata. Naquela época, as doenças não eram diagnosticadas como hoje. As pessoas não mandavam os filhos ao psicólogo.

— Ela tinha… uma doença mental?

— Ela gostava muito de fogo.

Todos da família estavam dormindo em seus quartos, menos a Agatha. Ela entrou no quarto dos pais e tocou fogo, e depois bloqueou a porta com uma cadeira para que não pudessem abrir a porta e fugir.

— Então, todos morreram? – perguntou Molly para a senhora.

— Sim – Betty respondeu com uma cara muito triste.

A Betty conseguiu sair do quarto dela quando ouviu os pais gritando. Ela foi a única que sobreviveu e a Agatha morreu no incêndio que ela mesma causou. Por que ela fez isso?! Não havia uma resposta. Talvez quando eu entrei no quarto e mexi nas bonecas. Isso acordou de alguma forma o espírito da Agatha. Um espírito que a Betty não via há muito tempo. Mas a Betty continuou na casa, porque, acho que ela não queria abandonar a família de novo.

Por sorte, eu consegui voltar para o meu antigo apartamento. Arrumei outro emprego como garçonete e tentei seguir com a minha vida. Mas certas coisas nunca são superadas. Certas coisas nunca saem da cabeça. Principalmente à noite. É mais difícil à noite.

Molly ainda liga para Betty todos os anos no Natal. Betty ainda mora na casa, mas nunca mais teve uma cuidadora.

Fonte: Discovery plus – Objetos Amaldiçoados

EDIÇÃO : WANDERSON L.

NARRAÇÃO: TRADUTOR ANTONIO ONLINE


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