A verdadeira e sombria história do clássico ‘Pinóquio’
Muitas histórias infantis que hoje conhecemos como narrativas leves e educativas, em suas versões originais apresentam enredos mais densos e até sombrios – e o clássico Pinóquio é uma delas. Publicada pelo italiano Carlo Collodi em 1881, a história da marionete de madeira que ganha vida se imortalizou através da animação tocante e quase ingênua lançada por Walt Disney em 1940. Mas seu original é bem mais complexo e obscuro do que imaginamos.
Segundo explicado em uma reportagem da BBC, a história original refletia os muitos problemas sociais que a Itália enfrentava no período, apenas 20 anos após a reunificação do país – em uma época em que o conceito de infância como hoje conhecemos simplesmente não existia. Collodi havia servido ao exército durante as guerras da independência, e era uma pessoa desiludida e crítica quando publicou os primeiros capítulos da série História de uma Marionete em um jornal infantil.
No romance, Pinóquio é bondoso, porém falho, comete erros frequentes e enfrenta dificuldades diante da realidade e de suas próprias contradições para amadurecer.
A questão da mentira que faz seu nariz crescer é presente, mas não é central na história, que será levada em breve às telas em duas novas versões, uma para cinema, dirigida por Robert Zemeckis, e outra para a Netflix, versão do mexicano Guillermo del Toro, com data de estreia prevista para dezembro.
O livro, no entanto, inclui diversas cenas e aventuras que ficaram de fora das versões cinematográficas. Há cenas brutais, violentas, como por exemplo, quando Pinóquio apoia os pés em um braseiro e eles são queimados enquanto ele dorme.
As particularidades do personagem principal não são nem de longe, porém, as únicas diferenças do texto original: na história de Collodi, Gepeto não é um relojeiro simpático e sem problemas financeiros, mas sim um carpinteiro extremamente pobre e que, apesar de carinhoso, se comporta como um “tirano” com as crianças.
O mais sombrio contraste que há diante da versão da Disney, porém, é o destino do Grilo Falante: no livro, o inseto é morto pelo próprio boneco em suas primeiras páginas, que reaparece em outros momentos da história, mas somente como espírito. E a morte é parte constante do livro, de tal forma que a primeira decisão do autor foi matar até o personagem principal, enforcado em um carvalho pela Raposa e o Gato, que queriam roubar suas moedas.